5 meses com um teclado ergonômico
Resgate de contexto – por que procurar periféricos focados em ergonomia?
Apesar de trabalhar remotamente há quase quatro anos, eu não tinha exatamente um espaço dedicado em casa para trabalhar e estudar antes da pandemia. O ensino remoto emergencial e as semanas sem sair de casa me fizeram embarcar em um processo de construção de um lugar em que pudesse passar horas e horas na frente do computador confortavelmente.
Cheguei ao meu mouse vertical, MX Vertical, após um período de frustração com um mouse da Redragon que parou de funcionar. Tive um Trackman sem fio da Logitech do início dos anos 2000 por vários anos, mas ele morreu após quase duas décadas de uso.
Sobre teclados, cheguei a ter dois neste período – um Kumara da Redragon que também começou a apresentar problemas em algumas teclas após poucos meses de uso e um MX Keys da Logitech, da mesma linha do meu mouse vertical.
Muitas coisas me deixaram decepcionada com o MX Keys:
- Teclas pesadas, que causavam fadiga nos meus dedos
- Personalização restrita ao Windows e macOS sem substitutos abertos à altura no Linux
- Bateria que não durava muito tempo, o que me forçava a carregá-lo constantemente
- Ser desnecessariamente grande para boa parte das coisas que precisava fazer
As situações acima me incentivaram a fazer uma pesquisa profunda sobre ergonomia em periféricos. Pensamos tanto nisso quando montamos o nosso escritório, por que não considerar os mesmos aspectos para uma das minhas principais ferramentas de trabalho? Estava disposta a gastar um bom dinheiro em um teclado e um mouse que me deixassem tão satisfeita a ponto de não sentir a necessidade de procurar outros periféricos para o meu escritório poucos meses depois. Estava cansada de procurar opções mais baratas e me frustrar com elas.
Como foi a adaptação?
Conto mais sobre os meus primeiros dias com o teclado no texto 14 dias com um teclado ergonômico.
Você realmente sentiu alguma diferença positiva não só para digitar mas em ergonomia com o Moonlander?
Eu finalmente consigo usar o meu computador com uma postura correta e mais relaxada. Sempre senti uma imensa tensão no corpo usando teclados “normais”, especialmente aqueles que incluem um numpad. Mas preciso enfatizar que um bom teclado é apenas parte de um quebra-cabeça para se construir um escritório confortável – você ainda precisa considerar coisas como a altura de sua mesa e dos monitores que usa, o conforto de sua cadeira, a iluminação do ambiente, a sua postura… Um teclado ergonômico não é uma solução mágica para todos os seus problemas. Ele é um componente de um plano de conforto a longo prazo.
Você teve que fazer outras adaptações no setup pra ficar mais ergonômico? Tive que colocar uma das pernas do Moonlander sobre o note, e até hoje eu não sei onde coloco o mouse.
Tive que comprar uma cadeira melhor. O problema de comprar coisas mais confortáveis é perceber como o resto das suas coisas está longe de ser tão confortável quanto. A minha cadeira anterior, uma Flexform Uni, ficou em um estado tão deplorável após um ano de uso que me vi obrigada a procurar por uma cadeira mais durável após ouvir relatos horríveis sobre o pós-venda da empresa. Para você ter uma ideia, um dos problemas que tive foi com os braços da cadeira, que não estavam nivelados e não me davam o apoio necessário para relaxar os ombros.
Como você pode perceber, é um tema comum neste texto ficar frustrada ao pagar um preço razoável por um produto e vê-lo se deteriorar rapidamente ao longo de poucos meses. Acabei decidindo juntar todas as minhas moedinhas (com a ajuda de um cliente) e comprar uma Aeron tamanho B da Herman Miller. Saí de casa em plena pandemia para experimentar todas as cadeiras que cogitei comprar para ter certeza de que estava fazendo a escolha certa.
Sobre a posição do mouse, como a natureza dos meus trabalhos profissionais e estudantis é requerer muita escrita e pouco uso do mouse, acabei decidindo colocar o meu MX Vertical entre as duas placas, com um apoio de pulso dedicado. Sinto que é a posição mais confortável que encontrei para o meu padrão de uso, e isso parece ser uma tendência entre pessoas que montam ou compram teclados split (com duas placas separadas).
É fácil de configurar para usar no Windows e no Linux?
A configuração do teclado acontece em duas etapas:
- Escrevendo ou editando o firmware do teclado (via Oryx ou diferamente com QMK)
- Instalando o firmware novo (via Wally ou qualquer outra ferramenta compatível com QMK), o que implica em:
- Gerar um arquivo com o novo firmware
- Usar um programa para instalá-lo no teclado, o que geralmente envolve também apertar o botão físico de reset no Moonlander
Todas as configurações que você programar no seu teclado serão carregadas para qualquer sistema operacional que você usar – elas permanecerão salvas em sua memória interna. Mas como cada sistema operacional tem as suas particularidades, é possível que você tenha que programar comandos diferentes para diferentes sistemas operacionais. Você pode se beneficiar de camadas dedicadas para cada um.
Oryx é um configurador baseado no QMK. Ele oferece uma interface mais amigável para a edição de teclas e camadas, mas pode não te dar acesso a absolutamente todas as funcionalidades do QMK. Por isso, algumas pessoas preferem usar o QMK diretamente, sem o Oryx ou Wally como intermediários. O uso do QMK é um tanto mais complexo do que o uso do Oryx, mas você terá uma maior facilidade de uso com QMK se a linguagem C não lhe for estranha. Para pessoas que não aprenderam C ou jamais programaram, sinto que o QMK é um grande salto em dificuldade.
A única nota de rodapé sobre a configuração do Moonlander (ou qualquer outro teclado da ZSA) no Linux e no macOS é a exigência de pacotes ou arquivos de configuração adicionais.
Está sentindo que valeu a pena o investimento ou um teclado padrão e menor já era suficiente?
Para mim, valeu cada centavo. O meu Moonlander é um teclado que se adapta à maneira como uso o meu computador e o meu espaço de trabalho, enquanto eu precisava me adaptar aos seus antecessores. Sinto que o formato split é realmente o meu formato favorito, e agora eu odeio digitar em teclados normais. Mas planejo montar um clone do Planck nas próximas semanas para testar o quanto do meu amor pelo Moonlander é pelo formato e o quanto é pelo software.
Você usa camadas? Se sim, quantas?
Nos primeiros quatro meses de uso, não liguei muito para camadas. As configurações mais “avançadas” que realmente usei foram macros, Tap Dance e Auto Shift. Mas a experiência de montagem de um pequeno macropad como preparação para a construção de um teclado split para meu noivo fez com que eu mudasse de ideia – ter acesso rápido a comandos ou ações que uso com frequência na ponta de meus dedos fez com que eu voltasse a pensar em camadas. Neste momento, tenho as seguintes camadas:
- QWERTY: camada principal, onde está o alfabeto, pontuação, e alguns comandos recorrentes.
- Macros: camada povoada com macros, numpad e todas as teclas de função (F1 até F12)
- Keeb: camada povoada com configurações específicas do teclado.
Você pode explorar a configuração do meu teclado aqui.
Quais são os pontos negativos do Moonlander?
- Ele não é feito para todas as mãos. Uma pessoa no /r/ErgoDox relatou não conseguir se adaptar de forma alguma ao teclado. Em uma troca de mensagens, o próprio CEO da ZSA afirmou que o Moonlander não serveria para o formato das mãos dessa pessoa, oferecendo devolução gratuita mesmo após o prazo expirar. Tendo isso em mente, se você está hesitante em comprar um teclado do gênero, recomendo contatar ou as empresas por trás dos produtos que você está cogitando ou as comunidades de teclados mecânicos para consultá-los sobre que tipo de teclado eles recomendariam para as suas mãos. Adicionalmente, alguns teclados como o Kyria oferecem arquivos para que você imprima uma página com um modelo do teclado em escala real e há um site que compara modelos mais populares que oferece arquivos para impressão em escala.
- As partes móveis do Moonlander o tornam mais frágil do que outros modelos de teclados split. Um amigo acionou a garantia da ZSA ao quebrar o mecanismo de movimentação do thumb cluster (e foi prontamente atendido pela empresa, que enviou uma nova placa sem custo adicional). Este vídeo, que aponta as diferenças entre o ErgoDox EZ e o Moonlander Mark I, mostra exatamente onde está o ponto de estresse das partes móveis do Moonlander.
- Apesar de ter partes móveis, o número de configurações estáveis do Moonlander é baixo. Acho inclinações mais extremas bastante desconfortáveis, mas isso é um aspecto negativo para muitas pessoas que desejam explorar outros níveis de inclinação do teclado.
- Os estabilizadores das teclas 2u mais atrapalham do que ajudam. Escolhi switches mais leves – Kailh Speed Silver – por ser alguém que gosta de digitar rapidamente e senti que fazia um esforço maior para acionar essas teclas. Acabei optando por retirar os estabilizadores por completo após não me sentir satisfeita com as opções de modificações ao meu dispor.
- Encontrar um kit de teclas compatível com os tamanhos propostos pela ZSA pode ser complicado. Sinto que, neste aspecto, o Moonlander é um tanto melhor do que o ErgoDox (que geralmente precisa de kits inteiros dedicados às suas exigências). Temos 64 teclas 1u no corpo principal das duas placas e 6 teclas 1.5u e duas teclas 2u no total entre os dois thumb clusters (locais onde repousam os seus polegares). Mas você pode substituir as teclas 1.5u por 1u e as 2u por 2.25u sem muito prejuízo, se preferir.
Outras considerações
Esta não é uma compra que deve ser feita impulsivamente
O maior ponto de reclamação entre os que pulam de um teclado tradicional para um teclado split é o tempo de adaptação e retorno para velocidades de digitação “aceitáveis” (por duas semanas fiquei na casa das 30-40 palavras por minuto quando costumava atingir 70-80 em um teclado normal). A adaptação é frustrante, especialmente se você é o tipo de pessoa que usa absolutamente todas as teclas disponíveis em um teclado. Pesquise muito e converse com outras pessoas antes de embarcar.
Em termos econômicos e práticos, comprar um teclado split pré-construído ou montá-lo você mesmo será caro da mesma forma
Qualquer custo adicional que você “economizar” ao montar um teclado será gasto em horas trabalhadas nesse projeto. E, com a alta do dólar, o preço das peças que você comprará será alto a não ser que você compre em conjunto com outras pessoas ou vá para um extremo de “faça você mesmo”, o que exigirá muito conhecimento técnico e paciência.
Teclados split ainda são, indiscutivelmente, um nicho dentro de uma comunidade de nicho (teclados mecânicos). Muitos componentes não são fabricados em larga escala ou são dependentes do que chamam de “compras em grupo” – que, apesar de serem uma alternativa mais aceitável a desperdícios ou acúmulos de estoque, acaba se traduzindo em um longo período de espera (um ou dois meses em momentos mais otimistas, um ou dois anos em produtos que dependem de um fornecedor específico como GMK). No fim, as escolhas que você irá fazer devem ser pautadas nas seguintes perguntas:
- A minha demanda é imediata?
- Posso pagar pelo o que preciso?
- Quanto tempo tenho para me dedicar a isso?
- Quanto conhecimento técnico eu tenho? Quanto preciso adquirir?
- Tenho disposição para aprender coisas novas?
O preço de um Moonlander Mark I ou de um ErgoDox EZ não é trivial. Mas lembre-se que, neste preço, estão incluídos:
- 2 anos de garantia
- Montagem e testagem de componentes
- Uma entrega extremamente rápida por courier
- Desenvolvimento e manutenção do Oryx e Wally – ferramentas que diminuem drasticamente as barreiras de acesso a teclados tão personalizáveis.